terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Técnicas Mistas

No ensino das artes plásticas para crianças, a didática aplicada nas aulas do Garatuja foi ganhando contornos próprios em função das necessidades que surgiam. Nem todos os alunos demonstravam interesse pela atividade, e força-los a somente desenhar ou pintar por duas horas consecutivas poderia levar a um resultado inverso do esperado, gerando aversão e consequente bloqueio pela atividade. Pensando nisso buscamos alternativas para que o desenho e a pintura fizessem parte de uma atividade mais ampla, cercado de estímulos e descobertas que atiçassem a curiosidade infantil – única forma de aprender. Para isso o uso de técnicas mistas foi fundamental. Alguns trabalhos foram criados pelo gravador Joaquim Gimenes Salas, lá no inicio do Garatuja, na década de oitenta, quando ainda era o Clubinho de Artes e Arteiros de Atibaia. Na continuidade de seu trabalho essa proposta prevaleceu e ganhou força pela necessidade de diversificar ainda mais as opções expressivas oferecidas às crianças. O que chamamos de técnicas mistas são atividades que fogem das técnicas tradicionais como gravura, fotografia, etc.  Muitos desses procedimentos são reaproveitamentos de técnicas e procedimentos antigos, ou adaptados de atividades profissionais já extinta, onde utilizamos de todos os ferramentais próprios da atividade, porém, a maioria foram inventadas.  A proposta é que as crianças tenham contato com o maior número possível de ferramentas, materiais e instrumentos. Depósitos de materiais de construção, lojas de utilidades domésticas, armarinhos e demais estabelecimentos comerciais (com grande variedade de produtos) foram as fontes de inspiração para criar inúmeras técnicas que aplicamos até hoje. Algumas ferramentas também foram inventadas ou adaptadas ao uso das crianças, outras, por ser muito antiga, são novidades para elas, como é o caso do pantógrafo. Nas técnicas mistas destacamos atividades como a incrustação, a modelagem, a raspagem, etc. As ferramentas mais utilizadas são o serrote, martelo, goiva, espátula, vários tipos de pincéis, réguas, lápis, morsas e materiais como vidro, cola, argila, pregos, ferro, madeira, pano, metal, massas, pigmentos, etc. Dá certo? Ao longo de mais de três décadas de atividades é possível estabelecer alguns critérios avaliativos e afirmar que sim. Boa parte das crianças que passaram pelas aulas de artes plásticas do Garatuja seguiram profissões que não utilizam diretamente as experiências obtidas na infância. Hoje são comerciantes, bancários, dentistas, médicos, etc., mas quase todos ainda guardam os trabalhinhos que fizeram enquanto crianças: Prova irrefutável do carinho e consideração pelo trabalho. Esse o maior desafio: Tratar o ensino das  atividades artísticas como uma grande fonte de prazer e manter esse espírito pelo resto da vida.