sábado, 21 de maio de 2011

Seo Sylvio, o bom humor como legado.

Saibam que quando chegar o dia da partida
Levarei comigo o samba e o amor de vocês
É que sou irmão de samba, por parte de Adão e Eva
Onde vou carrego o samba, onde o samba vai, me leva.

(Irmãos de Samba, de Nestor de Holanda e Jorge Tavares)

Atibaia perde um musico e o Instituto Garatuja perde um grande colaborador. A vida nos ensina que são nos momentos difíceis que se conhecem os verdadeiros amigos, e Seo Sylvio nunca nos faltou nessas horas. E não foram poucas às vezes em que precisamos dele. Além de sogro, havia um laço de amizade contida no respeito e na admiração em comum, que nunca foi expressa por palavras, mas sentida no olhar. Desde que passei a freqüentar sua casa, que para mim parecia uma eterna festa (eram doze filhos, noras, netos...bisnetos), passei também a conviver com um ambiente familiar até então desconhecido por mim, onde arte e cultura era assunto cotidiano. Esse ambiente influenciou a todos e se traduziu nas aptidões artísticas de vários filhos e netos: músicos, poetas, bailarinas, fotógrafos e principalmente nos muitos pandeiristas da família. Várias vezes almocei com ele e o almoço se estendia por longas conversas sobre música popular brasileira. Bastante exigente no gosto musical, foram poucas às vezes em que discordei de sua opinião. Ele, assim como eu, adorava música antiga, e conhecia muita coisa. Difícil era sair do almoço no horário certo para trabalhar, pois sempre tinha um chorinho a mais para me mostrar. Em 2003, o Conjunto Pedra Noventa gravou um CD independente por iniciativa de seu filho Élder. Fiz a diagramação da capa e uma caricatura para o miolo do CD. A impressão foi de outro genro, o Romaro. O nome Pedra Noventa quem deu foi ele. Carioca, foi do Rio de Janeiro que trouxe essa gíria de seu tempo de criança e que, segundo ele, ressurgiu numa estampa de camiseta com a qual batizou e presenteou o conjunto. Pedra Noventa quer dizer malandro boa praça... gente boa. O nome coincidiu com o ano da formação do grupo e também com um evento realizado nesse período que levou o nome de Atibaia Noventa, além da associação com a Pedra Grande, referencia geográfica da cidade. O conjunto ficou bastante conhecido na região, num estilo muito próximo ao dos Demônios da Garoa, e acompanhou artistas importantes que passaram pela cidade como Jair Rodrigues, Noite Ilustrada e outros. Fico contente em saber que ficou esse registro em CD. Numa cidade que despreza com tanta facilidade seus artistas mais genuínos, manter uma fonte de memória é fundamental. Muitos se esqueceram, e outros desconhecem, que Seu Sylvio, antes do Pedra Noventa, foi integrante do melhor conjunto de Choro da região, o Conjunto Chorões do Paraíso. Foi uma química única, que nos anos oitenta juntou o que de melhor havia na cidade: o violão sete cordas do João da Matta, o violão de Armando Petruci ou de Ary Gallo, bandolim do Nadir, cavaquinho de Élder, surdo de João Paulo e no pandeiro Seo Sylvio. Pouco registro ficou dessa época. No ano passado filmei a última apresentação pública do Conjunto Pedra Noventa com a formação original: Ary Gallo no violão, Mala no pandeiro, Bú no cavaquinho, Joca no surdo e Seo Sylvio no chocalho. Havia ainda a participação de Paula Borges na voz. A gravação foi realizada no show de Zé Domingos. Nela nota-se Seo Sylvio já debilitado pela doença, mas o que eu não sabia era que estava registrando também uma das últimas apresentações do Ary Gallo, um dos grandes violonistas da cidade, que morreria meses depois. Ultimamente Seo Sylvio voltou-se à fotografia. Nosso assunto passou a ser aberturas, diafragmas...focos. Logo, nas primeiras conversas sobre linguagem fotográfica, percebi que um olhar estético mais apurado não era de seu interesse naquele momento. Seu olhar voltava-se ao metro quadrado que o circundava. Da varanda fazia fotos de moto em movimento, sombras que se delineavam, nuvem que se parecia qualquer coisa, transeuntes distraídos. Da sala, fotos de vasos, espelhos, janelas. Requinte técnico não era o mais importante, a sutileza estava no sentido de cada foto, na sua expressão singela. Em 2008 fizemos uma exposição dessas fotos no Garatuja. Atibaianas, as fotográficas foi o nome que ele escolheu. Passamos horas montando-as em molduras, da forma como queria. Cada foto tinha uma história, que ele repetia a cada novo admirador que surgisse. Tempos depois começou também a escrever. Assim como nas fotos, eram textos intimistas, relatos de vida sempre vividos com muito humor. Quem o conheceu mais profundamente saberá que simpatia e bom humor será seu maior legado. Causos, piada, frases de efeito, trocadilhos e o eterno assobio. Nunca mais ouvirei um assobio sem me lembrar dele. Fica de minha parte, e acredito que de toda a diretoria do Garatuja, a eterna gratidão pelo que nos fez. Que o bom humor, que tanto nos alegrou em vida, passe agora a alegrar seus caminhos, por onde quer que vá.
Márcio Zago

Abaixo áudio de Seo Sylvio cantando no Chorões do Paraíso (1986) e um vídeo da apresentação no Rio de Janeiro. O link é da apresentação dos Chorões do Paraíso no Programa Alegria do Choro, na TV Cultura -http://youtu.be/SXc-hqNsaTo e do trabalho sensível de Daniel Choma e Tati Costa sobre o Pedra 90. http://youtu.be/1FvkMUlQhYM e http://youtu.be/wq3XzwrYdw0


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Garatuja recebe doação de livros da Funarte.

O Instituto de Arte e Cultura Garatuja, atualmente Ponto de Cultura, mantém um pequeno espaço reservado a livros, discos, gibis, fotos, vídeos e registros sonoros que são disponibilizados para consulta dos alunos e freqüentadores da entidade. O acervo é voltado principalmente a arte e a cultura popular. A grande maioria das fotos e dos registros sonoros é referentes às congadas e demais tradições locais. Parte deste material já foi reunida num kit contendo dez CDs produzidos de maneira artesanal pelo Instituto e encaminhada a bibliotecas e coleções de várias partes do país, através do projeto Universo Poético-Musical dos Congadeiros de Atibaia, realizado em 2005 e patrocinado pela Petrobras.

Recentemente recebemos a doação de diversos livros e até CDs e vídeo através do Programa Nacional de Doações das Edições Funarte. “A Funarte, ao distribuir suas edições, tem por objetivo dar acesso à população de informação e conhecimento, disponibilizando-as e tornando-as acessíveis aos cidadãos brasileiros. A produção editorial da Funarte é reconhecida nacionalmente pela excelência e qualidade e este Programa deixa a Instituição mais perto da população. É papel do setor público cumprir esta tarefa em nome de construir uma cidadania cultural.” Entre as doações destacamos: A Estética do Oprimido, de Augusto Boal, Vianinha – Teatro, Televisão, Política, organizado por Fernando Peixoto, Ankito – Minha vida...meus humores, de Denise Casais Lima Pinto, Respeitável Público...o Circo em Cena, de Ermínia Silva e Luís Alberto de Abreu, O Negro Brasileiro e o Cinema, de João Carlos Rodrigues, Angel Vianna – Sistema, método ou técnica, organizado por Suzana Saldanha, Pixinguinha – vida e obra, de Sérgio Cabral, entre outros. Anunciamos ainda o recebimento mensal de diversas publicações resultado de parceria estabelecida com o Ministério da Cultura no projeto Mais Cultura. São elas: Le Monde Diplomatique Brasil, Revista Caros Amigos, Revista Piauí, Revista Rolling Stone, Revista Fórum, Revista Viração, Revista Almanaque Brasil, Revista Brasileiros, Revista Raça, Revista Cult e o Jornal de Literatura Rascunho. O Garatuja sente-se feliz em receber este material e mais feliz ainda em poder estendê-lo ao maior número de pessoas.